Gente do mal e mal necessário

Há pessoas que são más e causa prejuízo a muita gente. Por que elas se mantêm nas empresas? Serão um "mal necessário"?
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Em uma das empresas em que trabalhei, fui orientado a não me aproximar de um colega do escritório porque ele era “gente do mal”. Nunca me esqueci dessa frase. E, convivendo com aquele colega, cheguei à conclusão de que, de fato, ele era “do mal”. Em que sentido? Em quase todos. A maldade estava presente no olhar, nos comentários, nas decisões, enfim, estar perto dele era algo sempre tenso e até perigoso. Mas ele continuava lá, e isso já tinha mais de duas décadas. Muita gente sofria com ele. Cheguei a questionar por que não era demitido, e a explicação foi: “ele é um mal necessário”.
Apesar de tratar mal todo mundo, havia rotinas e ações que praticamente só ele sabia fazer. Isso o mantinha ali, protegido pela competência técnica. Comecei a analisar a presença desses agentes “do mal” em todo lugar. E, como cristão, fui obrigado a admitir que até dentro das igrejas existiam pessoas assim. E, em todos os ambientes, eles se mantinham, alguns, por longos períodos. Eram excelentes profissionais, sócios majoritários, membros fundadores, enfim, tinham um lado “necessário” ao grupo do qual faziam parte. Representavam o famoso “mal necessário”.
Como lidar com pessoas assim? Fugir deles o tempo todo é impossível. Por outro lado, sua presença é incômoda. E, aí, volto à expressão “mal necessário”. Somos obrigados a lidar com eles e, se queremos sobreviver a eles, precisamos criar um meio possível de convivência.
Uma figura que me vem à mente nesse sentido é um “antiácido” que tomei muitas vezes quando sofria de gastrite: meia hora antes da refeição, eu ingeria aquele líquido branco que me ajudava bastante a não passar mal depois da refeição. Quando esquecia de tomar, sofria. E, porque sofria, raramente esquecia de tomar.
Para conviver com pessoas “do mal”, precisamos criar alguma defesa pessoal, algum “antiácido emocional” que nos garanta sobreviver depois da maldade que é imposta por determinadas pessoas. Na prática, temos que nos proteger da maldade, e isso não pode ser algo ocasional: deve ser uma prática constante quando temos “gente do mal” em nosso meio. 
Mas, além da proteção, é bom repensarmos com muita profundidade a questão do “mal necessário”. Será que esse pensamento está correto? Será que o mal não faz um estrago tão grande que a contribuição necessária se torna irrelevante? Será que, garantindo a presença dos maus entre nós, não estamos legitimando ações que deveríamos repudiar? O privilégio dado a uma “pessoa do mal” apenas por ser ela “necessária” pode incutir a ideia errada de que não nos preocupamos com o caráter, a moral, a sensibilidade e a fé das pessoas – e que, para nós, vale a pena o que elas podem oferecer em questões de trabalho, dinheiro ou competência técnica.
Será que não conseguimos encontrar “gente do bem” que tenha competência e que isso se transforme em um “bem necessário”?  Penso que é mais uma questão de sabermos escolher melhor e não nos acomodarmos àqueles que se vale de competência para manter hábitos destrutivos e comportamento reprovável.
Há “gente do bem” no mundo e devemos ir atrás dessas pessoas. E sempre há, também, a esperança de que muitos “do mal” serão transformados e passarão de “mal necessário” a “bem necessário”. Que isso aconteça na grande maioria dos casos.
Por Guilherme Gimenez
Fonte: CFA

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