Opinião não vale nada
Era uma vez um mundo mágico onde todo mundo tinha uma opinião. Para qualquer assunto, qualquer evento, opiniões e mais opiniões competem pela atenção do público, enquanto esse, por sua vez, cria suas próprias opiniões sobre assuntos mais diversos ainda. Deus me livre não ter opinião, dizer “não sei” ou precisar estudar antes de falar. Em nosso mundo mágico, o que importa mesmo é ter opinião e ser ouvido pelo mundo.
Não me leve a mal. Ter opinião é legal. Quando me perguntam o que quero comer no jantar, que filme quero assistir ou se hoje vou em tal evento ou não, sei que minha opinião é sempre bem vinda. Quando me perguntam sobre a sexualidade de crianças, para onde vai o dólar ou qualquer outra das centenas de questões complexas que circulam pela mídia e redes sociais como se fossem receitas de bolo, sei que minha opinião vale menos que uma nota de três reais. Melhor ficar quieto do que sair falando besteira.
Antigamente, ser escutado dava algum trabalho. Você tinha que ir até uma aula, em que pessoas com algum conhecimento no assunto debatiam com base em alguns fatos e conhecimentos. Ou você tinha que abrir uns livros, estudar, checar o que estava acontecendo para finalmente montar uma opinião e, o mais difícil, ser capaz de mudar de ideia caso descobrisse que as coisas não eram bem como você pensava.
E aí chegou a Internet, as redes sociais, o jornalismo que mede seu impacto por curtidas. Tem uma cena na comédia “A Vida de Brian” em que um pretenso profeta vai até um mercado, sobe em um caixote e começa a discursar para o público. De repente, ele olha em volta e vê um monte de profetas malucos, cada um em seu caixote, falando as besteiras que bem entendem.
Eu não consigo mais deixar de ver as discussões da mídia, política e redes sociais como uma grande versão dessa antiga comédia: um monte de malucos berrando qualquer coisa aos quatro ventos, para, quem sabe, atraírem um público adequado para seu lado.
E não pense que estou exagerando. Já passei tempo suficiente em sala de aula para saber que alunos adoram ter opinião sobre coisas como a taxa de juros, a dívida externa e o câmbio entre moedas, mas já perdi a conta de quantas vezes tive que explicar aos mesmos alunos a diferença entre uma curva linear e exponencial e até coisas básicas sobre como calcular porcentagens (e olha que estou falando de faculdade e alunos “bons”). Se a matemática é terrível, nem me faça começar a falar sobre os erros de português (pronto, finalmente estou parecendo uma tia velha).
E não pense que estou exagerando. Já passei tempo suficiente em sala de aula para saber que alunos adoram ter opinião sobre coisas como a taxa de juros, a dívida externa e o câmbio entre moedas, mas já perdi a conta de quantas vezes tive que explicar aos mesmos alunos a diferença entre uma curva linear e exponencial e até coisas básicas sobre como calcular porcentagens (e olha que estou falando de faculdade e alunos “bons”). Se a matemática é terrível, nem me faça começar a falar sobre os erros de português (pronto, finalmente estou parecendo uma tia velha).
Somos uma nação que não lê. Os números são baixos e desconfio que as pessoas mentem. Me desculpem, mas quando as listas de preferências de leitura mostram frequentemente nomes como “Bíblia" e “Machado de Assis”, a única conclusão a que chego é que boa parte dos respondentes pensa em algo bonito para não passar vergonha e confessar que faz tempo que não abre um livro. De novo, fui professor, escrevi livros, perdi a conta de quantos alunos caras de pau leem resumos na Internet e juram sob o risco de tortura que adoram tal autor.
É óbvio que existem os bons. São muitos, e muito bons. Mas em um monte de loucos berrando em caixotes, quem ganha é quem berra mais alto. Duvida?
Basta olhar as notícias especializadas sobre “surpresas" no mercado financeiro. “O dólar devia ter feito isso”; “A bolsa devia ter feito aquilo”. Se tivessem ideia sobre o que estão falando, essas pessoas saberiam que nenhuma dessas coisas devia ter feito porcaria nenhuma. Veja políticos e completos leigos no assunto formando e gritando opiniões sobre sexualidade, violência, educação e formas de gestão.
Fatos, citações de fontes com autoridade, pesquisas com algum embasamento? Nada. Dominam “pensamentos”, “coisas que eu gostaria que acontecessem” e o que resolvi chamar de fofices, “coisas que acho que são verdade com base no meu modo fofo de ver o mundo”. Atitudes perigosas e bem comuns, que deixam o interlocutor no devaneio de ser dono da verdade, enquanto todos os outros são taxados de estúpidos ou algo assim.
Ter opinião, querido leitor ou leitora, é bom. Pesquisar, entender, discutir, ampliar o domínio sobre o assunto que pretendemos tratar é melhor ainda.
Um sábio disse uma vez que, ao entrar em uma discussão, se você não conseguir sustentar os argumentos de seus oponentes melhor do que eles, é melhor ficar quieto e ir estudar. Nossa opinião, na maioria das vezes, não vale porcaria nenhuma.
Por Fábio Zugman
Fonte: Administradores.com
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