Administração: Ética ou Esperteza?
O Código de Ética do Administrador estabelece que o profissional em Administração “tem uma obrigação contínua, para com a ciência da Administração, em todas as suas áreas, devendo propugnar pela elevação dos padrões da profissão, para isso deverá procurar, sempre novos modelos, descobrir a verdade e disseminar suas descobertas e criações, mantendo-se ainda, bem informado das inovações no campo da Administração”. O teor deste artigo, por si, já define os objetivos gerais da atividade e da necessidade incontornável do profissional aperfeiçoar-se continuamente na área de atuação.
No capítulo dos deveres do Administrador, o 1º item do Art. 1º do Código, concisamente determina: “Exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade” – configurando com absoluta clareza referenciais que, na prática, conduzem o Administrador a caminhos produtivos, legítimos e lícitos, não justificando os meios pelos fins, mas encontrando, no exercício digno da profissão, o “modus operandi” para a obtenção de resultados que são do interesse do Administrador, dos seus clientes e representantes e da sociedade em geral.
Não cabe aqui o aprofundamento dos aspectos filosóficos relacionados a conceituação do “bom e do mau”, vez que considerando apenas as bases éticas estabelecias da ciência da Administração, temos elementos suficientes para fundamentar que a preocupação ética não se restringe à ação virtuosa, mas seus significados se ampliam de forma que o ético seja produtivo com honestidade, seja eficiente com correção, seja criativo com zelo – isto é, se alcancem metas administrativas práticas desejáveis sem sacrifício da moralidade profissional.
Bertrand Russel, um dos maiores pensadores deste século, lembra que “cada indivíduo poderá lucrar com o roubo, desde que ele fosse o único ladrão: mas todos lucram com a abstenção de outros de roubar” Donde – “Lei e governo são instituições pelas quais se procuram impor o interesse geral ao indivíduo: o mesmo acontece com a opinião pública sob forma de louvar e censurar. A consequência é que, onde as políticas são eficientes, a grande maioria da população acha vantajoso abster-se do crime”
Tais considerações são particularmente pertinentes no Brasil de hoje, em que alguns “administradores públicos” são denunciados por falcatruas e certas instituições – que deveriam “impor o interesse geral” (a honestidade) estão envolvidas em transações nebulosas, senão criminosas. Lamentáveis fatos que talvez, em parte, decorram de se escolherem “administradores” que não o são de fato e de direito e, portanto, não tem compromisso com a ciência administrativa e se guiam por outros compromissos e interesses (políticos, corporativos, pessoais ou de grupos organizados nos desvão do poder). Estes elementos policiáveis geralmente têm também uma “ética” que se condensa num juramento de lealdade ao chefe.
Contrário do Administrador legítimo, comprometido com sua profissão, que se inspira num juramento cuja prática não é conciliável e até se contrapõe à corrupção – “Prometo dignificar minha profissão consciente de minhas responsabilidades legais, observar o Código de Ética, objetivando o aperfeiçoamento da ciência da Administração, o desenvolvimento das instituições e a grandeza do homem e da Pátria”.
Acreditamos firmemente que esta etapa de crise que atinge a Nação – que parece não ter horizontes, de acabar – a reorganização socioeconômica do País passa necessariamente pela evocação dos princípios da ética e da moralidade, em todos os níveis e em todos os segmentos.
Este entendimento não significa afirmar que os Administradores todos sejam, por definições e apenas por sua condição profissional, incorruptíveis, à prova da tentação do enriquecimento fácil ou da sedução das contas numeradas suíças. Seria ingenuidade não permissível em maiores de 12 anos. O que afirmamos categoricamente é a necessidade de fazer valer os princípios éticos e morais básicos que devem sempre nortear o exercício das ações administrativas e profissionais em geral. “Que pode, também, parecer ingênuo num país de espertos”, mas é indispensável para o desenvolvimento da Nação, sob pena de tantas e contaminantes “espertezas” nos transformem, em futuro próximo, num “país de bobos”, à margem do desenvolvimento social e tecnológico a que alguns países do Primeiro Mundo se credenciam com seriedade e competência.
Sem a valorização cotidiana e determinada da ética nas relações de trabalho continuaremos a ser esta grande e pobre Nação encalacrada a miséria social, no analfabetismo, na má distribuição de renda, nos elevados índices de morbidade, violência e mortalidade, na desorganização econômica e no estado de escândalo crônico – o que, seguramente, não é uma escolha muito esperta.
Por Joel Cavalcanti Costa
Fonte: CFA
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