Como não torrar seu FGTS no primeiro dia


A partir do dia 10 de março, o governo irá liberar o primeiro lote de saques das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O volume total de saques deve chegar, apenas na primeira remessa, a R$ 6 bilhões, segundo estimativas da Caixa Econômica Federal (CEF), beneficiando cerca de 4,8 milhões de trabalhadores (veja aqui como e onde sacar).
Com isso, empresas de diversos setores, sobretudo do varejo, se preparam para a injeção de dinheiro na economia, uma promessa de bons resultados em meses de baixa estação. A Via Varejo, grupo formado pelas Casas Bahia e Ponto Frio, já prepara uma ação publicitária para atrair os clientes e testar seu serviço de omnichannel -- compra na loja online para retirada na loja física.
Empresas que atuam com franquias, por sua vez, estão à caça de empreendedores que queiram comprar suas marcas. Em um país com 13 milhões de desempregados, essa pode ser uma alternativa esperada. Empresas de investimentos, imobiliárias, concessionárias... todo mundo vai querer dar uma mordida nessa fatia, que será servida poucos dias após a divulgação do catastrófico resultado do Produto Interno Bruto (PIB).
No entanto, os trabalhadores devem ter cautela com as ofertas e não se deixar levar pelas emoções do momento. "Nunca tome uma decisão quando estiver muito triste ou muito feliz", alerta o consultor e colunista do Administradores.com Fábio Zugman, "especialmente quando se trata de dinheiro".
A dica é esperar, colocar o dinheiro em uma aplicação simples, como a poupança, e refletir sobre qual o melhor destino que deve ser dado ao dinheiro. "Eu deixaria esse dinheiro em um fundo pelo menos por um mês pra tomar a decisão com calma", conta Zugman. "Na pior das hipóteses, ganha-se com juros e espera-se a onda das explorações passar", diz.
"Se for consumir, procure coisas que tenham valor de longo prazo. Um smartphone, em dois anos, é notícia velha. Uma parcela em um imóvel, pelo menos, é patrimônio. Um eletrodoméstico pode facilitar o dia a dia; férias podem ter lembranças pra vida toda", indica o consultor.
Dívidas
Essa dica serve para consumidores com as finanças em equilíbrio. Mas a realidade de boa parte dos brasileiros é diferente. De acordo com um levantamento do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o país fechou o ano de 2016 com 58,3 milhões de inadimplentes -- ou 39% da população brasileira.
As próprias instituições realizaram uma pesquisa junto a 801 pessoas para saber como os brasileiros pretendiam utilizar o dinheiro do FGTS. A maior parte (38%) dizem que pretendem pagar dívidas -- o percentual sobe para 44% quando considerados apenas os consumidores das classes C, D e E.
“Muitas pessoas usam rendas extras sem considerar sua situação financeira atual. Infelizmente, isso é comum", afirma Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin).
"Portanto, procure levantar seus números e ter consciência se está em situação de equilíbrio, endividamento, inadimplência ou se é investidor. O ideal é que a quantia possa melhorar a qualidade de vida da pessoa e família, não apenas agora, mas especialmente no futuro”, orienta.
Para Roque Pelizzaro Jr, as famílias das classes C, D e E serão as mais beneficiadas. "A maioria das pessoas não possui um valor tão alto nas contas, mas que é bastante significativo para auxiliar nas necessidades mais urgentes. Esse dinheiro pode ajudar o cidadão afetado pela crise a limpar o nome e recuperar seu crédito", afirma.
Zugman lembra que os juros no Brasil superam, de longe, qualquer investimento que possa ser feito. A taxa de juros no rotativo do cartão de crédito -- o famoso "pague o valor mínimo" que soa como uma grande vantagem -- atingiu um valor recorde de 486,8% ao ano, segundo o Banco Central (BC). "Quem tem dívidas, com esses juros cobrados no Brasil, deve usar o dinheiro para quitar ou renegociar", recomenda.
Onde investir?
O Brasil está em recessão e as empresas não devem voltar a contratar tão cedo ao ritmo de três anos atrás. Para quem não conseguiu voltar ao mercado de trabalho, o empreendedorismo pode ser a única saída. Nesse caso, o dinheiro do FGTS vai cair em uma boa hora. Mas é preciso ter cautela.
Investir na abertura do próprio negócio é vantajoso quando se tem um plano, conhecimento em gestão, marketing e clientes interessados no produto. Outro cuidado que se deve ter são com as ofertas boas demais para serem verdadeiras, o que inclui os famosos esquemas de pirâmide e parcerias duvidosas.
"Quando você tem dinheiro, todo mundo quer ser seu amigo de repente, todo mundo tem um plano ou uma ideia, mas geralmente é furada. Nos EUA as ligas de esporte começaram a dar curso para os atletas não entrarem nesse tipo de armação", lembra Zugman.
Em relação a aplicações financeiras, a renda fixa é uma alternativa conservadora, mas que, em geral, rende mais do que a inflação. Domingos recomenda alternativas como poupança, CDB ou Tesouro Direto.
"A modalidade escolhida precisa corresponder ao prazo em que se deseja realizar o sonho, tendo em vista a possibilidade de resgatá-lo no momento desejado sem perder rendimentos", aconselha.
Por fim, há as franquias. Nesse sistema, o empreendedor adquire os direitos de comercializar produtos ou serviços de uma marca estabelecida e retorna taxas de royalties e publicidade. Em geral, os franqueadores já fornecem uma previsão dos custos iniciais e do prazo de retorno.
O dinheiro do FGTS pode ser um complemento desejável para quem já pensava em abrir um negócio nesse modelo. De acordo com o Sebrae, enquanto 80% das empresas fecham as portas antes de completarem cinco anos, essa taxa em relação às franquias é de apenas 15%. Há menos risco e mais previsibilidade.
Mesmo assim, essa não pode ser uma decisão precipitada, até porque franqueadoras não procuram aventureiros. "Dedicar um bom tempo para pesquisar, apurar e entender o sobre o que está prestes a aderir é essencial. Após sanar dúvidas com o franqueador, solicite o Circular de Oferta de Franquias", recomenda Felipe Rossetti, sócio fundador da Piticas. O documento é obrigatório conforme a Lei nº 8.955/1994.
A investigação deve se estender a outros franqueados da marca, que poderão dizer com propriedade se o investimento é ou não vantajoso.
Fonte: CFA

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